domingo, 11 de fevereiro de 2018

Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas em Boletim de Jan/Fev de 2018,

Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas em Boletim de Jan/Fev de 2018, um dos mais renomados coletivos médico e científico do Brasil, com imenso reconhecimento internacional.
E agora, quem vai sanar os males já causados a milhões de crianças?
V Boletim Informativo
smcc 2018 Edição Janeiro/Fevereiro 2018
Órgão Oficial da Sociedade de
Medicina e Cirurgia de Campinas
Uma visão científica
sobre o assunto focada
exclusivamente nas crianças,
sem discriminação ou política
Realizamos na Sociedade de Medicina
e Cirurgia de Campinas (SMCC) o
“Fórum Ideologia de Gênero” - uma
reflexão diante do pensamento científico e
filosófico a respeito do conceito de gênero
aplicado às crianças em tenra idade e também
da abordagem terapêutica para os casos
de transtornos de gênero.
Este boletim é um resumo dos pensamentos
e estudos. É importante deixar
claro que este evento realizado em 02 de
Dezembro de 2017 não teve qualquer conotação
ideológica ou política, apenas
CIENTÍFICA, e limitou-se a discutir o tema
apenas na INFÂNCIA.
Psiquiatras e pediatras esclarecem e
aprofundam o tema, possibilitando construirmos
juntos, um posicionamento formal
da Instituição à luz da CIÊNCIA.
Dra. Fátima Bastos
Presidente da SMCC
Ideologia de gênero:
Isso não é assunto para criança!
O Evento Ideologia de Gênero
“Apresentando o pensamento de Judith Butler”
Associados esperavam um posicionamento oficial da
instituição a respeito da exposição de crianças em idade precoce
e em fase escolar às premissas da “Ideologia de Gênero” proposta
originalmente como fundamento filosófico por Judith Butler.
Por isso, o Fórum de Ideologia de Gênero.
A equipe de condução para a organização do evento contou
com Dra. Fátima Bastos, Presidente da instituição, Dra. Carmen
Sylvia Ribeiro, Diretora de Eventos, Dr. Marcelo Amade Camargo,
Diretor de Comunicação e Marketing, Dr. Júlio Cesar Narciso
Gomes, Diretor Científico, Dr. Jorge Carlos Machado Curi, Diretor
Científico Adjunto e Conselheiro do CFM, Dra. Silvia Helena Rondina
Mateus, Delegada da APM e Conselheira do CREMESP, Dra.
Giulietta Cucchiaro, Psiquiatra infantil e Dr. José Martins Filho.
Professor Emérito de Pediatria da UNICAMP.
A mesa redonda “SMCC frente a frente com a Ideologia de
Gênero” foi aberta aos profissionais da saúde. Dra. Giullieta
Judith Butler, filósofa americana, é considerada a principal
referência teórica na questão da Ideologia de Gênero, cuja
proposta central é DESCONSTRUIR ou SUBVERTER A IDENTIDADE
DE GÊNERO (Butler, 1990). Para ela, o mundo se baseia
numa “hegemonia opressora masculina”, cuja base fundadora
seria a instituição da heterossexualidade. Ela propõe que se derrube
essa hegemonia atacando-se a instituição da heterossexualidade
através da tomada da linguagem (que contém o masculino
e feminino) e da desconstrução da identidade de gênero. Para
essa desconstrução a proposta é destruir a noção da constância
de gênero e oferecer no lugar a oportunidade de vivenciar uma
multiplicação das possibilidades de gênero.
Esta teoria está baseada numa “leitura seletiva” de autores,
como a própria Butler reconhece, ou seja, suas ideias não representam
“o estado da arte” sobre os complexos temas abordados. A
dimensão biológica é pouco ou nada considerada e não é discutida
a possibilidade da transformação da relação homem/mulher no
sentido de se fomentar a sua complementaridade, tão sabiamente
representada pelo símbolo milenar do yin-yang. Pelo contrário,
neste ponto Butler convoca o feminismo para se concentrar na tarefa
de destruir a ideia, em si, do binarismo feminino/masculino.
Mais preocupante é a questão fundamental do livro: a desconstrução/
subversão da Identidade de Gênero através da
destruição da noção de Constância de Gênero. O conceito de
Constância de Gênero (Kohlberg, 1966), embora central para a
Dra. Carmen Sylvia Ribeiro
Mestre em Saúde Mental pela Faculdade
de Medicina da UNICAMP | Especialista
em Neurociências USP
Dra. Giulietta A. Cucchiaro
Psiquiatra Infantil Unicamp
Doutorado em Medicina Universidade de
Heidelberg – Alemanha | Pós-doutorado
(Epidemiologia e Saúde Mental Infantil) Unicamp
Cuchiaro, Psiquiatra infantil, abriu a mesa redonda apresentando
o tema “O pensamento de Judith Butler”, considerando as distorções
e subversões propostas pela autora em livro sobre sua
“ideologia”.
Dr. Alexandre Saadeh, Coordenador do Ambulatório de Identidade
de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria
da USP, apresentou a recente experiência do Ambulatório de
transtornos de Identidade de Gênero da USP ao atendimento e
acompanhamento de pacientes por equipe multiprofissional.
Já o Dr. José Martins Filho nos trouxe a palestra: “Cuidado,
Afeto e Limites. O Problema do Stress Tóxico Precoce Infantil”,
falando de sua importante experiência com crianças e o impacto
da exposição excessiva a informações, oferecendo elementos
que confundem e trazem efeito “tóxico”. A mesa redonda foi moderada
pelo Dr. Alexandre e contou também com a moderação
do professor convidado Dr. Paulo Dalgalarrondo, Coordenador
do ambulatório que assiste aos transtornos de Identidade de Gênero
na UNICAMP que fez questão de ressaltar a importância de
debates como este para esclarecer e diferenciar uma postura de
entendimento e cuidado à luz da ciência, evitando abordagens
preconceituosas que poderiam aumentar o grau de sofrimento
destes pacientes.
proposta de Butler, é apenas citado, mas não, explicado. Desta
forma não é colocado explicitamente que o que está sendo proposto
é uma interferência no desenvolvimento infantil. Segundo
Kohlberg, por volta dos 3 anos as crianças já se identificam com
um dos gêneros, mas somente por volta dos 5 anos elas assimilam
o conceito de que seu gênero permanecerá constante, independente
das circunstâncias. Considerando-se que 80% do desenvolvimento
do cérebro após o nascimento se dá até os 4 anos
de idade (Steinhausen, 1988), acreditamos que instituir práticas
artificiais que interfiram no desenvolvimento infantil nessa fase
teria o efeito de causar problemas nas crianças.
A identidade de gênero é um dos principais pilares da identidade
da criança e seu desenvolvimento ocorre de forma natural
e descomplicada na imensa maioria dos casos. Negar à criança
a auto evidência óbvia que ela constata observando seu próprio
corpo provavelmente seria perturbador e traumático.
Como profissionais que trabalham com crianças consideramos
que os princípios propostos por Butler, se aplicados durante
o desenvolvimento infantil, constituem uma forma de abuso. Devemos
proteger as crianças desse tipo de interferência para que
elas possam crescer livres e saudáveis.
Referências:
• Butler, J (1990) “Problemas de Gênero: Feminismo e
Subversão da Identidade”, Editora Civilização Brasileira
• Kohlberg, L (1966) “A cognitive-developmental
analysis of children’s sex role concepts and attitudes”. In
E.E. Maccoby (Org.), The development of sex differences.
Standford, CA: Standford University Press
• Steinhausen, HC (1988) In: “Psychische Stoerungen bei
Kindern und Jugendlichen” Urban & Schwarzenberg
02 V Boletim Informativo SMCC 2018
Deixem nossas crianças em Paz!
Disforia de gênero
Crianças devem ser livres para brincar e crescer. As famílias
têm o direito de pensar o que é melhor para seus filhos sem
tentar sugerir, influenciar ou decidir por eles o que é melhor.
Há que se respeitar o desenvolvimento infantil deixando à livre
demanda suas percepções sobre seu corpo e sobre a sociedade
que a cerca sem desconstruir ou induzir à problematização das
questões de Gênero, pois estas ofertas de informações contraditórias
causam confusão e podem trazer sérios danos ao bom desenvolvimento
das crianças.
Qualquer decisão sobre gênero deve ser particular e não deve
haver repressão e muito menos indução sobre estas questões às
crianças de tenra idade.
A sociedade deve ser orientada a entender que cada ser no
momento adequado e com maturidade, deve escolher e tomar
decisões sobre gênero amparado por conhecimento seguro e
Disforia de gênero diz respeito a uma incongruência
entre a percepção do corpo e a vivência da identidade de gênero de
um indivíduo. Ou seja, o indivíduo tem um corpo de macho, mas se
reconhece como fêmea, ou o contrário. Menos de 1% da população
apresenta essa manifestação. Ainda hoje é considerado diagnóstico
psiquiátrico, mas isso poderá mudar em breve, não sendo considerada
como doença, mas sim como variação. A abordagem diagnóstica
e acompanhamento devem iniciar na infância, por volta dos dois,
três anos de idade, e deve ser mantida ao longo de todo o desenvolvimento
com abordagem multiprofissional e interdisciplinar.
É preciso reconhecer que nem toda manifestação de variação
na auto-percepção gênero na infância é sinônimo de transexualidade.
Cerca de 75%-90% das crianças se identificam com o sexo
ao nascer, entre aquelas cuja orientação sexual futura é homossexual
ou bissexual.
Vale ressaltar que identidade de gênero é conceito diferente
de orientação sexual: a primeira diz respeito a auto-percepção
ou seja, como o sujeito se reconhece, homem ou mulher; já a
orientação sexual se refere à escolha do parceiro seja outro homem,
mulher ou os dois para satisfação de desejo sexual – orien-
Prof. Josė Martins Filho
Titular emérito de Pediatria da Unicamp
Membro titular da ACADEMIA BRASILEIRA
de PEDIATRIA
Dr. Alexandre Saadeh
Coordenador do Ambulatório de Identidade
de Gênero e Orientação Sexual do Instituto
de Psiquiatria da USP
profissional sobre todas as implicações físicas, genéticas, fenotípicas,
hormonais e emocionais. Induzir à confusão de Gênero
para crianças pequenas sob o pretexto ilusório de desconstruir
preconceitos não parece uma boa estratégia. Ao contrário pode
repercutir negativamente sobre a auto percepção destas crianças
e prejudicar seu desenvolvimento.
O afeto, o carinho, e a presença dos pais são fundamentais para o
bom desenvolvimento neuropsicológico e físico. Desconstruir preconceitos
deve ser embasado por boas referências da família sobre
conceitos como altruísmo empatia e generosidade. Isto sim repercutirá
positivamente sobre uma sociedade que aceita as diferenças.
A família educa e forma. A escola escolariza e intelectualiza.
Por esta razão é fundamental que cada instituição faça seu papel
com clareza, é imprescindível que respeitem, estejam atentos e
cuidem bem das crianças. Isso SIM é fundamental para qualquer
escolha que vão enfrentar adiante.
tação nada mais é que a escolha de parceria.
O acompanhamento e tratamento envolve precisão diagnóstica.
Na infância nada deve ser feito além da observação até o início da
puberdade (estágio Tanner 2), quando poderia-se optar, dependendo
das circunstâncias, pelo bloqueio do eixo hipotálamo-hipófise
até os 16 anos de idade, quando seria indicada a hormonioterapia
específica para as mudanças corporais desejadas.
No Brasil ainda não temos nenhuma Resolução Normativa
definitiva para acompanhamento de crianças e adolescentes.
Existem resoluções somente para adultos, que estabelecem a importância
do acompanhamento psicológico e psiquiátrico por no
mínimo dois anos. Além desses, um criterioso acompanhamento
endocrinológico para, somente ao final de todo este seguimento,
ser realizada a cirurgia de redesignação sexual.
O acompanhamento por equipe especializada diminui o sofrimento
da família e da criança, na infância e ao longo de seu
desenvolvimento. Pode prevenir comportamentos nocivos
como fenômenos de automutilação, e poderia reduzir riscos de
tentativas de suicídio na adolescência e na vida adulta, diminui o
isolamento social o ostracismo e melhora a inclusão social.
Estudos sugerem que a disforia de gênero possui uma base
etiológica biológica que sugere que origem está na formação da
área cerebral responsável pela identidade de gênero, ainda durante
a gestação. Mas não podemos nos esquecer de que valores
culturais e morais acabam influenciando e impactando no potencial
de inserção social, profissional e familiar dessas pessoas.
V Boletim Informativo SMCC 2018 03
O médico é autor de vários livros. Entre eles “Quem cuidará das crianças? A difícil
tarefa de educar os filhos hoje”; “O nascimento e a família. Alegrias, surpresas e
preocupações”; “A criança terceirizada. Os descaminhos das relações familiares no
mundo contemporâneo” e “Cuidado, afeto e limites. Uma combinação possível” em
parceria com Ivan Capellato.
A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas
(SMCC), entidade representativa de seus médicos associados
em Campinas e Região vem a público manifestar
sua posição institucional a respeito do tema “Ideologia de
Gênero” exclusivamente no que tange os aspectos desta
discussão envolvendo as CRIANÇAS.
A SMCC promoveu um Fórum com diversos e renomados
especialistas médicos em 02/12/2017 para abordar, do ponto
de vista científico, o processo de desenvolvimento da identidade
de gênero das crianças na primeira infância. O debate
foi rico em referências científicas e citações bibliográficas
além de importantes reflexões de profissionais experientes.
Este posicionamento está embasado nas conclusões
deste evento e nas subsequentes consultas
a sociedades de especialidades e
literatura médico-cientifica. Ou seja,
trata-se de conhecimento baseado
em EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAs e
não abrange opiniões pessoais
de qualquer natureza.
A ciência aponta que falar
precocemente sobre gênero
com crianças pode ser prejudicial
ao desenvolvimento delas,
uma vez que não estão preparadas
nem física, nem emocionalmente
para refletirem sobre o tema.
O cérebro tem um tempo natural
de desenvolvimento para o aprendizado
e a tomada de decisões. Até dois ou três anos
de idade os neurônios se reproduzem numa velocidade
muito grande, nessa fase a criança aprende, toma decisões
e começa a entender o mundo externo. Neurologicamente,
afirma-se que cerca de 85% do cérebro se forma até os 5
anos de idade.
Nesse período, os especialistas e trabalhos científicos
sobre desenvolvimento infantil reforçam que é preciso
deixar as crianças livres e respeitar a sua evolução, física e
emocional. Além disso, durante toda a infância, os pequenos
ainda estão aperfeiçoando suas habilidades de comunicação
verbal e corporal e entendendo como expressar
seus sentimento.
Qualquer decisão sobre gênero deve ser própria e depois
que o amadurecimento chegar. Durante a infância, as crianças
devem ser estimuladas a brincar, serem felizes e se expressarem
como elas quiserem, sem que isso represente ser
menino ou menina. Não havendo repressão e nem indução
quanto à identidade de gênero.
Este posicionamento, de forma alguma, tira das famílias
o direito de pensar o que é melhor para seus filhos. Porém,
esta interferência não deve tentar sugerir, influenciar ou decidir
por eles, apenas servir de referência.
Portanto, a Sociedade se posiciona contraria -
mente à ideia que as discussões sobre gênero devam
fazer parte de projetos pedagógicos durante a educação
infantil. Pelo contrário, a discussão de identidade de gênero
não deve ser apresentada à criança de forma alguma
durante a infância.
Após a infância, o jovem já terá desenvolvimento
e maturidade em grau
compatível com a complexidade do
tema e aí sim estará apto a refletir
e argumentar sobre o que deseja
para si.
Este posicionamento é direcionado
à médicos e também
para pais, responsáveis, educadores
e profissionais ligados a
promoção e supervisão da educação
dos menores.
A SMCC acredita que, durante a
infância, o afeto, o acolhimento, o carinho
e a presença dos pais são fundamentais
para um desenvolvimento natural
e saudável. Cuidar bem das crianças, isso sim é
fundamental!
Adicionalmente, este documento ainda afirma que não
se deve criminalizar qualquer decisão nem deixar de respeitar
e ajudar os indivíduos.
Os pediatras e psiquiatras devem estar preparados para
orientar as famílias quanto às questões de gênero. Ao observar
comportamentos diferenciados, cabe ao profissional,
acolher e ajudar a família a transpor as dificuldades, angústia,
a perceber e entender o que está acontecendo com seus
filhos e como eles estão lidando com isso.
Ouvir as crianças e não criar debates precoces é fundamental
para se trabalhar bem com a questão, acompanhando-
as e guiando-as para um desenvolvimento saudável e
respeitoso, sem bullying e sem repressão. Este sim é o papel
dos pais e profissionais.
MANIFESTO IDEOLOG IA DE GÊNERO
04 V Boletim Informativo SMCC 2018A BÍBLIA TINHA RAZÃO!
E quem afirma isso é a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas em Boletim de Jan/Fev de 2018, um dos mais renomados coletivos médico e científico do Brasil, com imenso reconhecimento internacional.
É ciência! Leia e divulgue!
E agora, quem vai sanar os males já causados a milhões de crianças?
V Boletim Informativo
smcc 2018 Edição Janeiro/Fevereiro 2018
Órgão Oficial da Sociedade de
Medicina e Cirurgia de Campinas
Uma visão científica
sobre o assunto focada
exclusivamente nas crianças,
sem discriminação ou política
Realizamos na Sociedade de Medicina
e Cirurgia de Campinas (SMCC) o
“Fórum Ideologia de Gênero” - uma
reflexão diante do pensamento científico e
filosófico a respeito do conceito de gênero
aplicado às crianças em tenra idade e também
da abordagem terapêutica para os casos
de transtornos de gênero.
Este boletim é um resumo dos pensamentos
e estudos. É importante deixar
claro que este evento realizado em 02 de
Dezembro de 2017 não teve qualquer conotação
ideológica ou política, apenas
CIENTÍFICA, e limitou-se a discutir o tema
apenas na INFÂNCIA.
Psiquiatras e pediatras esclarecem e
aprofundam o tema, possibilitando construirmos
juntos, um posicionamento formal
da Instituição à luz da CIÊNCIA.
Dra. Fátima Bastos
Presidente da SMCC
Ideologia de gênero:
Isso não é assunto para criança!
O Evento Ideologia de Gênero
“Apresentando o pensamento de Judith Butler”
Associados esperavam um posicionamento oficial da
instituição a respeito da exposição de crianças em idade precoce
e em fase escolar às premissas da “Ideologia de Gênero” proposta
originalmente como fundamento filosófico por Judith Butler.
Por isso, o Fórum de Ideologia de Gênero.
A equipe de condução para a organização do evento contou
com Dra. Fátima Bastos, Presidente da instituição, Dra. Carmen
Sylvia Ribeiro, Diretora de Eventos, Dr. Marcelo Amade Camargo,
Diretor de Comunicação e Marketing, Dr. Júlio Cesar Narciso
Gomes, Diretor Científico, Dr. Jorge Carlos Machado Curi, Diretor
Científico Adjunto e Conselheiro do CFM, Dra. Silvia Helena Rondina
Mateus, Delegada da APM e Conselheira do CREMESP, Dra.
Giulietta Cucchiaro, Psiquiatra infantil e Dr. José Martins Filho.
Professor Emérito de Pediatria da UNICAMP.
A mesa redonda “SMCC frente a frente com a Ideologia de
Gênero” foi aberta aos profissionais da saúde. Dra. Giullieta
Judith Butler, filósofa americana, é considerada a principal
referência teórica na questão da Ideologia de Gênero, cuja
proposta central é DESCONSTRUIR ou SUBVERTER A IDENTIDADE
DE GÊNERO (Butler, 1990). Para ela, o mundo se baseia
numa “hegemonia opressora masculina”, cuja base fundadora
seria a instituição da heterossexualidade. Ela propõe que se derrube
essa hegemonia atacando-se a instituição da heterossexualidade
através da tomada da linguagem (que contém o masculino
e feminino) e da desconstrução da identidade de gênero. Para
essa desconstrução a proposta é destruir a noção da constância
de gênero e oferecer no lugar a oportunidade de vivenciar uma
multiplicação das possibilidades de gênero.
Esta teoria está baseada numa “leitura seletiva” de autores,
como a própria Butler reconhece, ou seja, suas ideias não representam
“o estado da arte” sobre os complexos temas abordados. A
dimensão biológica é pouco ou nada considerada e não é discutida
a possibilidade da transformação da relação homem/mulher no
sentido de se fomentar a sua complementaridade, tão sabiamente
representada pelo símbolo milenar do yin-yang. Pelo contrário,
neste ponto Butler convoca o feminismo para se concentrar na tarefa
de destruir a ideia, em si, do binarismo feminino/masculino.
Mais preocupante é a questão fundamental do livro: a desconstrução/
subversão da Identidade de Gênero através da
destruição da noção de Constância de Gênero. O conceito de
Constância de Gênero (Kohlberg, 1966), embora central para a
Dra. Carmen Sylvia Ribeiro
Mestre em Saúde Mental pela Faculdade
de Medicina da UNICAMP | Especialista
em Neurociências USP
Dra. Giulietta A. Cucchiaro
Psiquiatra Infantil Unicamp
Doutorado em Medicina Universidade de
Heidelberg – Alemanha | Pós-doutorado
(Epidemiologia e Saúde Mental Infantil) Unicamp
Cuchiaro, Psiquiatra infantil, abriu a mesa redonda apresentando
o tema “O pensamento de Judith Butler”, considerando as distorções
e subversões propostas pela autora em livro sobre sua
“ideologia”.
Dr. Alexandre Saadeh, Coordenador do Ambulatório de Identidade
de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria
da USP, apresentou a recente experiência do Ambulatório de
transtornos de Identidade de Gênero da USP ao atendimento e
acompanhamento de pacientes por equipe multiprofissional.
Já o Dr. José Martins Filho nos trouxe a palestra: “Cuidado,
Afeto e Limites. O Problema do Stress Tóxico Precoce Infantil”,
falando de sua importante experiência com crianças e o impacto
da exposição excessiva a informações, oferecendo elementos
que confundem e trazem efeito “tóxico”. A mesa redonda foi moderada
pelo Dr. Alexandre e contou também com a moderação
do professor convidado Dr. Paulo Dalgalarrondo, Coordenador
do ambulatório que assiste aos transtornos de Identidade de Gênero
na UNICAMP que fez questão de ressaltar a importância de
debates como este para esclarecer e diferenciar uma postura de
entendimento e cuidado à luz da ciência, evitando abordagens
preconceituosas que poderiam aumentar o grau de sofrimento
destes pacientes.
proposta de Butler, é apenas citado, mas não, explicado. Desta
forma não é colocado explicitamente que o que está sendo proposto
é uma interferência no desenvolvimento infantil. Segundo
Kohlberg, por volta dos 3 anos as crianças já se identificam com
um dos gêneros, mas somente por volta dos 5 anos elas assimilam
o conceito de que seu gênero permanecerá constante, independente
das circunstâncias. Considerando-se que 80% do desenvolvimento
do cérebro após o nascimento se dá até os 4 anos
de idade (Steinhausen, 1988), acreditamos que instituir práticas
artificiais que interfiram no desenvolvimento infantil nessa fase
teria o efeito de causar problemas nas crianças.
A identidade de gênero é um dos principais pilares da identidade
da criança e seu desenvolvimento ocorre de forma natural
e descomplicada na imensa maioria dos casos. Negar à criança
a auto evidência óbvia que ela constata observando seu próprio
corpo provavelmente seria perturbador e traumático.
Como profissionais que trabalham com crianças consideramos
que os princípios propostos por Butler, se aplicados durante
o desenvolvimento infantil, constituem uma forma de abuso. Devemos
proteger as crianças desse tipo de interferência para que
elas possam crescer livres e saudáveis.
Referências:
• Butler, J (1990) “Problemas de Gênero: Feminismo e
Subversão da Identidade”, Editora Civilização Brasileira
• Kohlberg, L (1966) “A cognitive-developmental
analysis of children’s sex role concepts and attitudes”. In
E.E. Maccoby (Org.), The development of sex differences.
Standford, CA: Standford University Press
• Steinhausen, HC (1988) In: “Psychische Stoerungen bei
Kindern und Jugendlichen” Urban & Schwarzenberg
02 V Boletim Informativo SMCC 2018
Deixem nossas crianças em Paz!
Disforia de gênero
Crianças devem ser livres para brincar e crescer. As famílias
têm o direito de pensar o que é melhor para seus filhos sem
tentar sugerir, influenciar ou decidir por eles o que é melhor.
Há que se respeitar o desenvolvimento infantil deixando à livre
demanda suas percepções sobre seu corpo e sobre a sociedade
que a cerca sem desconstruir ou induzir à problematização das
questões de Gênero, pois estas ofertas de informações contraditórias
causam confusão e podem trazer sérios danos ao bom desenvolvimento
das crianças.
Qualquer decisão sobre gênero deve ser particular e não deve
haver repressão e muito menos indução sobre estas questões às
crianças de tenra idade.
A sociedade deve ser orientada a entender que cada ser no
momento adequado e com maturidade, deve escolher e tomar
decisões sobre gênero amparado por conhecimento seguro e
Disforia de gênero diz respeito a uma incongruência
entre a percepção do corpo e a vivência da identidade de gênero de
um indivíduo. Ou seja, o indivíduo tem um corpo de macho, mas se
reconhece como fêmea, ou o contrário. Menos de 1% da população
apresenta essa manifestação. Ainda hoje é considerado diagnóstico
psiquiátrico, mas isso poderá mudar em breve, não sendo considerada
como doença, mas sim como variação. A abordagem diagnóstica
e acompanhamento devem iniciar na infância, por volta dos dois,
três anos de idade, e deve ser mantida ao longo de todo o desenvolvimento
com abordagem multiprofissional e interdisciplinar.
É preciso reconhecer que nem toda manifestação de variação
na auto-percepção gênero na infância é sinônimo de transexualidade.
Cerca de 75%-90% das crianças se identificam com o sexo
ao nascer, entre aquelas cuja orientação sexual futura é homossexual
ou bissexual.
Vale ressaltar que identidade de gênero é conceito diferente
de orientação sexual: a primeira diz respeito a auto-percepção
ou seja, como o sujeito se reconhece, homem ou mulher; já a
orientação sexual se refere à escolha do parceiro seja outro homem,
mulher ou os dois para satisfação de desejo sexual – orien-
Prof. Josė Martins Filho
Titular emérito de Pediatria da Unicamp
Membro titular da ACADEMIA BRASILEIRA
de PEDIATRIA
Dr. Alexandre Saadeh
Coordenador do Ambulatório de Identidade
de Gênero e Orientação Sexual do Instituto
de Psiquiatria da USP
profissional sobre todas as implicações físicas, genéticas, fenotípicas,
hormonais e emocionais. Induzir à confusão de Gênero
para crianças pequenas sob o pretexto ilusório de desconstruir
preconceitos não parece uma boa estratégia. Ao contrário pode
repercutir negativamente sobre a auto percepção destas crianças
e prejudicar seu desenvolvimento.
O afeto, o carinho, e a presença dos pais são fundamentais para o
bom desenvolvimento neuropsicológico e físico. Desconstruir preconceitos
deve ser embasado por boas referências da família sobre
conceitos como altruísmo empatia e generosidade. Isto sim repercutirá
positivamente sobre uma sociedade que aceita as diferenças.
A família educa e forma. A escola escolariza e intelectualiza.
Por esta razão é fundamental que cada instituição faça seu papel
com clareza, é imprescindível que respeitem, estejam atentos e
cuidem bem das crianças. Isso SIM é fundamental para qualquer
escolha que vão enfrentar adiante.
tação nada mais é que a escolha de parceria.
O acompanhamento e tratamento envolve precisão diagnóstica.
Na infância nada deve ser feito além da observação até o início da
puberdade (estágio Tanner 2), quando poderia-se optar, dependendo
das circunstâncias, pelo bloqueio do eixo hipotálamo-hipófise
até os 16 anos de idade, quando seria indicada a hormonioterapia
específica para as mudanças corporais desejadas.
No Brasil ainda não temos nenhuma Resolução Normativa
definitiva para acompanhamento de crianças e adolescentes.
Existem resoluções somente para adultos, que estabelecem a importância
do acompanhamento psicológico e psiquiátrico por no
mínimo dois anos. Além desses, um criterioso acompanhamento
endocrinológico para, somente ao final de todo este seguimento,
ser realizada a cirurgia de redesignação sexual.
O acompanhamento por equipe especializada diminui o sofrimento
da família e da criança, na infância e ao longo de seu
desenvolvimento. Pode prevenir comportamentos nocivos
como fenômenos de automutilação, e poderia reduzir riscos de
tentativas de suicídio na adolescência e na vida adulta, diminui o
isolamento social o ostracismo e melhora a inclusão social.
Estudos sugerem que a disforia de gênero possui uma base
etiológica biológica que sugere que origem está na formação da
área cerebral responsável pela identidade de gênero, ainda durante
a gestação. Mas não podemos nos esquecer de que valores
culturais e morais acabam influenciando e impactando no potencial
de inserção social, profissional e familiar dessas pessoas.
V Boletim Informativo SMCC 2018 03
O médico é autor de vários livros. Entre eles “Quem cuidará das crianças? A difícil
tarefa de educar os filhos hoje”; “O nascimento e a família. Alegrias, surpresas e
preocupações”; “A criança terceirizada. Os descaminhos das relações familiares no
mundo contemporâneo” e “Cuidado, afeto e limites. Uma combinação possível” em
parceria com Ivan Capellato.
A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas
(SMCC), entidade representativa de seus médicos associados
em Campinas e Região vem a público manifestar
sua posição institucional a respeito do tema “Ideologia de
Gênero” exclusivamente no que tange os aspectos desta
discussão envolvendo as CRIANÇAS.
A SMCC promoveu um Fórum com diversos e renomados
especialistas médicos em 02/12/2017 para abordar, do ponto
de vista científico, o processo de desenvolvimento da identidade
de gênero das crianças na primeira infância. O debate
foi rico em referências científicas e citações bibliográficas
além de importantes reflexões de profissionais experientes.
Este posicionamento está embasado nas conclusões
deste evento e nas subsequentes consultas
a sociedades de especialidades e
literatura médico-cientifica. Ou seja,
trata-se de conhecimento baseado
em EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAs e
não abrange opiniões pessoais
de qualquer natureza.
A ciência aponta que falar
precocemente sobre gênero
com crianças pode ser prejudicial
ao desenvolvimento delas,
uma vez que não estão preparadas
nem física, nem emocionalmente
para refletirem sobre o tema.
O cérebro tem um tempo natural
de desenvolvimento para o aprendizado
e a tomada de decisões. Até dois ou três anos
de idade os neurônios se reproduzem numa velocidade
muito grande, nessa fase a criança aprende, toma decisões
e começa a entender o mundo externo. Neurologicamente,
afirma-se que cerca de 85% do cérebro se forma até os 5
anos de idade.
Nesse período, os especialistas e trabalhos científicos
sobre desenvolvimento infantil reforçam que é preciso
deixar as crianças livres e respeitar a sua evolução, física e
emocional. Além disso, durante toda a infância, os pequenos
ainda estão aperfeiçoando suas habilidades de comunicação
verbal e corporal e entendendo como expressar
seus sentimento.
Qualquer decisão sobre gênero deve ser própria e depois
que o amadurecimento chegar. Durante a infância, as crianças
devem ser estimuladas a brincar, serem felizes e se expressarem
como elas quiserem, sem que isso represente ser
menino ou menina. Não havendo repressão e nem indução
quanto à identidade de gênero.
Este posicionamento, de forma alguma, tira das famílias
o direito de pensar o que é melhor para seus filhos. Porém,
esta interferência não deve tentar sugerir, influenciar ou decidir
por eles, apenas servir de referência.
Portanto, a Sociedade se posiciona contraria -
mente à ideia que as discussões sobre gênero devam
fazer parte de projetos pedagógicos durante a educação
infantil. Pelo contrário, a discussão de identidade de gênero
não deve ser apresentada à criança de forma alguma
durante a infância.
Após a infância, o jovem já terá desenvolvimento
e maturidade em grau
compatível com a complexidade do
tema e aí sim estará apto a refletir
e argumentar sobre o que deseja
para si.
Este posicionamento é direcionado
à médicos e também
para pais, responsáveis, educadores
e profissionais ligados a
promoção e supervisão da educação
dos menores.
A SMCC acredita que, durante a
infância, o afeto, o acolhimento, o carinho
e a presença dos pais são fundamentais
para um desenvolvimento natural
e saudável. Cuidar bem das crianças, isso sim é
fundamental!
Adicionalmente, este documento ainda afirma que não
se deve criminalizar qualquer decisão nem deixar de respeitar
e ajudar os indivíduos.
Os pediatras e psiquiatras devem estar preparados para
orientar as famílias quanto às questões de gênero. Ao observar
comportamentos diferenciados, cabe ao profissional,
acolher e ajudar a família a transpor as dificuldades, angústia,
a perceber e entender o que está acontecendo com seus
filhos e como eles estão lidando com isso.
Ouvir as crianças e não criar debates precoces é fundamental
para se trabalhar bem com a questão, acompanhando-
as e guiando-as para um desenvolvimento saudável e
respeitoso, sem bullying e sem repressão. Este sim é o papel
dos pais e profissionais.
MANIFESTO IDEOLOG IA DE GÊNERO
04 V Boletim Informativo SMCC 2018