No ano passado, compartilhei o slide de PowerPoint mais deprimente da história dinamarquesa. Em 2011, escrevi sobre uma deprimente imagem da complexidade tributária nos EUA. Vamos continuar com o tema “deprimente” hoje.
James Bessen, da Universidade de Direito de Boston, tem um interessante artigo publicado na Harvard Business Review sobre as fontes de lucro das empresas no século 211.
Ele começa com uma observação e uma dúvida.
Os lucros estão subindo. Isso é uma boa notícia para a sociedade?
Presumivelmente, a resposta normal seria sim. Lucros maiores, afinal, são geralmente um sinal de investimentos corretos. E quando mão-de-obra e capital são sabiamente alocados, isso é boa notícia para consumidores e trabalhadores. Mas Bessen corretamente observa que os lucros podem aumentar por razões erradas, e esse é o foco de sua pesquisa.
O aumento nos lucros pode representar um declínio no […] dinamismo econômico. […] As empresas se empenham em rent-seeking2 político – fazem lobby3 por regulações que lhes proporcionem mercado protegido – ao invés de competir em inovação. Nesse caso, os lucros elevados acarretam em diminuição da produtividade. […] Em uma nova pesquisa, eu desvendo os fatores associados à elevação no valor das empresas.
Infelizmente, ele descobre que as políticas cronistas4 representam uma participação deprimentemente grande dos lucros das empresas.
Descobri que os investimentos em ativos de capital convencionais, como máquinas e gastos em pesquisa e desenvolvimento, juntos representam uma parte substancial do aumento no valor das empresas e nos lucros, especialmente durante a década de 1990. No entanto, desde 2000, a atividade política e a regulamentação representam uma parcela surpreendentemente grande desse aumento.
Aqui está um gráfico bastante sombrio de seu artigo. Vou chamá-lo, para dizer o mínimo, de a imagem mais deprimente de 2016.
Ah, que triste observação do estado da nossa economia. As empresas estão fazendo quase tanto dinheiro manipulando Washington como servindo consumidores. E considere a forma como as instituições financeiras politicamente conectadas levantam seu lado da mesa5 para receber brindes sem merecê-los.
Bessen, acrescenta algumas análises, incluindo a percepção muito importante de que a regulamentação e a intervenção tendem a ajudar as grandes empresas em detrimento das empresas pequenas e novos concorrentes.
Grande parte deste resultado é impulsionada pelo papel da regulação. […] O lobby e os gastos em campanhas políticas podem resultar em mudanças regulatórias favoráveis, e muitos estudos dizem que o retorno desses investimentos pode ser bastante significativo. Por exemplo, um estudo conclui que, para cada dólar gasto em lobby para alívio tributário, as empresas receberam retornos superiores a US$ 220. […] Regulações que impõem custos podem gerar lucros indiretamente, uma vez que um custo para os que já estão no mercado é também uma barreira à entrada de potenciais interessados. Por exemplo, um estudo descobriu que regulações de poluição serviram para reduzir a entrada de novas empresas dentro de algumas indústrias de manufatura.
Também vale a pena notar que essa má notícia na verdade começou em 2000, o que faz sentido já que tanto Bush como Obama pressionaram políticas que expandiram a desengonçada marca do governo.
Essa pesquisa dá suporte à visão de que o rent-seeking político é responsável por uma parcela significativa do aumento dos lucros. As empresas influenciam o processo legislativo e regulatório e se empenham em uma ampla gama de atividades para lucrar com mudanças regulatórias, com significativo sucesso. […] Apesar de o rent-seeking político não ser novidade, o efeito desproporcional do rent-seeking sobre os lucros e valores das empresas é um acontecimento recente, em grande parte ocorrido desde 2000. Nos últimos quinze anos, os gastos em campanhas políticas pelas empresas aumentaram mais de trinta vezes, e o índice Regdata de regulação aumentou quase 50% para as empresas públicas.
Que ciclo terrível. O governo fica maior e mais poderoso, o que atrai empresas a verem Washington como um centro de lucro, o que então leva a mais políticas que expandem o tamanho e o poder do governo federal, o que leva a novas oportunidades de rent-seeking. Lava, enxagua, repete.
Ah, e não se esqueça que essa é uma das razões pelas quais há uma porta giratória de informantes que mudam de um lado para o outro, entre o setor privado e o governo, mas que seus verdadeiros empregos são estar sempre operando o sistema para obter riqueza não merecida.
Que é porque eu explico periodicamente que há uma grande diferença entre ser pró-mercado e ser pró-negócios.
Observações:
  1. No início do ano, compartilhei alguns dados, baseado em fontes de riqueza bilionária, que sugeriam que o cronismo não era um fator tão importante nos Estados Unidos. Mas a nova pesquisa de Bessen mostra que temos um grande problema, talvez porque as pessoas que ficam ricas honestamente depois decidem manter sua riqueza desonestamente.
  2. Se há algum lado bom para esta má notícia é esse divertido comercial sobre Kronies, que são brinquedos para os filhos da classe dourada de Washington.


Notas:

  1. Encontrei o artigo por meio de James Pethokoukis. (N. do A.)
  2. Rent-seeking é um jargão econômico, sem tradução comum para o português, que significa um agente tentar aumentar o próprio nível de riqueza subtraindo a riqueza dos demais – em oposição a produzir bens e serviços para oferecer à sociedade. (N. do E.)
  3. Fazer lobby é buscar persuadir autoridades a usarem suas posições para a concessão de benefícios legais. (N. do E.)
  4. “Cronismo” é mais uma expressão do inglês, da palavra cronyism, às vezes traduzida como capitalismo de compadrio, capitalismo de laços, ou capitalismo corporativista. É um sistema econômico onde a propriedade privada dos meios de produção é pelo menos superficialmente aceita, mas empresários bem conectados aos governantes desfrutam de tratamento diferenciado em relação aos demais – tratamento diferenciado bancado direta ou indiretamente pela população. Esses empresários buscam rent-seeking através do lobby. (N. do E.)
  5. Tilt the playing field, no original em inglês. (N. do T.)